sexta-feira, 4 de março de 2011

Aconteceu na Tabela Periódica


E eis que um belo dia o Carbono acorda e diz ao Oxigênio:
-Amigo, preciso lhe dizer.
-O que lhe aflige, caro Carbono?
-Eu nunca gostei de ser tetravalente. Nunca gostei de pertecer à família 4A. EU SOU MUITO MAIS DO QUE ISSO!
-Acalme-se, meu rapaz. Diga-me, o que tanto lhe incomoda na família?
-Não sei dizer, mas é que não temos muito destaque na tabela periódica. Minha família nem sequer tem um nome. E eu sou um elemento tão dedicado. Passei minha vida toda trabalhando noite e dia. Trabalhei em diversas áreas, da glicose ao diamante, principalmente ao lado de elementos importantes como você e o solitário Hidrogênio. Não é justo essa falta de reconhecimento.
-A vida é dura como um diamante e fria como a água.
-Não posso aceitar tanta exploração sem algum reconhecimento. Os gases nobres estão lá, parasitando no Clero da sociedade. Não se misturam com ninguém, não ajudam, vivem soltos por aí fazendo o que bem entendem. Os metais nobres então, vivem na Corte com seus trilhões de súditos, não servem pra quase nada, só pra enfeitar. Eles não compoem os seres vivos, não são essenciais para a vida, sabe? Os metais alcalinos ainda fazem alguma coisa, assim como os alcalinos terrosos, mas ainda assim não trabalham como eu e você. Aliás, você, calcogênio e os halogênios possuem ao menos um nome, e eu nada. Não sou nada e ainda assim sou o único que participa da pedra mais dura do universo. Faço mirabolâncias pra deixar as pessoas mais bonitas, para alimentá-las, pra produzir energia...
-Você é alguém, sim. Você é o Carbono, meu querido Carby ♥. Eu não tenho vergonha de você e quero assumir nosso namoro para todos o mais rápido possível. Vamos compartilhar nossos elétrons e fazer CO2 para sempre.
-Você fala essas coisas, mas eu sei que tem um caso com o Hidro.
-Ah, com o Hidro foi só passatempo. Ele é muito egoísta e não possui metade das suas qualidades. Eu amo mesmo é você.
-Sério?
-Sim, Carby. Abrace-me forte, sinta meus íons tocando os seus...
-Ohh, como isso é bom...

[MONÓXIDO DE CARBONO SAINDO DA CHAMINÉ]

quinta-feira, 3 de março de 2011

MONDO



Série "melhores filmes da minha vida". Não falarei sobre todos, mas apenas alguns, na medida em que eu me lembre deles, e que consiga ser breve, pois é quase impossível pra mim falar de uma obra sem falar de seu autor e entrar em detalhes. Tentarei focar-me apenas na obra. Este aqui é do francês-argelino-cigano Tony Gatlif. O filme conta a história de Mondo, um menino- talvez de origem cigana- que aparece de repente numa cidade francesa, sozinho, e que não sabe de onde veio. O mais interessante do filme é que ele mostra as vantagens e desvantagens de estar sozinho no mundo. O garoto não tem lar, proteção e identidade, mas no entanto possui liberdade, não só de ir pra onde quiser, mas de conhecer pessoas novas, de fazer amizade com quem deseja e aprender o que tem vontade. Mondo é visivelmente um amante da liberdade e da independência. A impressão que o personagem me passou é que ele não quer se "ajustar" à sociedade. Quando chega um policial para tirá-lo das ruas, ele foge, tem medo. A polícia é vista como uma força opressora do Estado, que age indiscriminadamente . O menino representa muito bem o povo cigano, ou a "alma do cigano": ele sofre preconceito das autoridades por ser uma criança "solta", por não ter noção de suas origens, e por isso é tachado de perigoso, quando na verdade ele não passa de uma criança inofensiva e carismática, que deseja ter um lar (algumas vezes ele pára pessoas na rua e pergunta, com um sorriso no rosto, se a pessoa quer adotá-lo), mas não abre mão da liberdade. Quem conhece Tony Gatlif, sabe que suas obras são voltadas para o combate ao estereótipo que existe (e a ignorância) em relação aos ciganos. Quem não o conhece, vale a pena conhecer. Mondo é um filme leve, que pode ser visto por todos, e que nos faz refletir sobre um mundo que desconhecemos e ignoramos, mas que está presente na vida de muitos.