segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Follow the yellow brick road [siga o padrão ouro]


O Mágico de Oz. E você achava que era só mais uma estorinha infantil sobre mágicos, bruxas e fadas. Não, meu caro leitor. Americano que se preze, nunca perde a oportunidade de fazer uma lavagem cerebral por meio da arte, antes mesmo do cinema e de hollywood. Sempre há uma mensagem obscura por trás de gnomos e bichinhos silvestres. Haha. Bem, dessa vez a tal lavagem foi, ao meu ver, mais leve, digamos assim. Apenas um descontentamento de pessoas honestas e trabalhadoras. Trata-se de um apelo ao uso do bimetalismo numa época de deflação. No mundo econômico essa história não é novidade, mas muita gente leiga desconhece o caso. Vou explicá-lo melhor (do jeito que entendi): Começando pelo nome "Oz", que é o símbolo da onça, medida de peso nos EUA. Naquela época, o ouro era o único metal usado como moeda, e portanto sua escassez causava uma falta de liquidez na economia, gerando deflação. Quem se beneficiava com isso eram os banqueiros e financistas do leste, com os juros altos, e eram eles os defensores do padrão-ouro. Só que a falta de liquidez prejudicava os setores mais produtivos e tirava o emprego de agricultores e operários, por causa da taxa de juros elevada. Se houvesse outro metal em circulação, como a prata, a liquidez aumentaria e os juros baixariam, movendo o setor produtivo da economia. Daí então surge um furacão no Kansas (analogia ao movimeto populista de fazendeiros arruinados que cresce com aderencia de outras camadas e luta fortemente contra os financistas e poderosos de Washington) e Dorothy, que representa o povo americano dentro desse movimento, cai justamente sobre a bruxa do leste (analogia com os banqueiros de New York). A bruxa morre e sobram apenas os sapatos de prata (que simboliza, obviamente, a prata, esperança para o uso do bimetalismo). No filme, os sapatos de prata são substituídos por sapatos de rubi. Para voltar pra casa (ou seja, para retornar ao Kansas com as dívidas pagas e dinheiro para investimento), Dorothy precisa encontrar o Mágico de Oz (presidente do partido republicano Mark Hanna) seguindo a estrada de tijolos amarelos, uma clara analogia ao padrão ouro da época. No caminho encontra um espantalho (agricultores arruinados), o homem de lata (operários desempregados) e o Leão covarde (William Bryan, ex-candidato à presidência e defensor do bimetalismo, que no entanto parecia às vezes divergir sua posição quanto ao tema, sendo chamado de covarde ou traidor). Esses personagens se encontram ao longo da narrativa e vão juntos em busca do Mágico na cidade das Esmeraldas (Washington DC). A esmeralda é uma analogia ao verde do dólar. O grupo finalmente encontra o Mágico, que impõe uma condição para fazer a "mágica": devem matar a bruxa do oeste. Essa bruxa seria talvez as forças da natureza, como a falta de chuva, que prejudica as plantações. Dorothy acaba matando a bruxa por acidente com um balde de água. A analogia com a água é que, além de ser essencial para a agricultura, ela também representa a "liquidez", mais uma vez reforçando as vantagens do bimetalismo. Por fim, quando Dorothy volta ao mágico para que ele cumpra a promessa de levá-la de volta pra casa, ela descobre que ele não é mágico, é um homem comum e não pode ajudá-la, o que é uma analogia ao mito de que o padrão ouro seria a solução. Frustrada, ela acaba encontrando uma fada que a aconselha a bater nos sapatinhos de prata e fechar os olhos. Ela finalmente consegue voltar ao Kansas. O desfecho da estória fala justamente sobre o uso da prata (bimetalismo) como único caminho viável para a solução do problema da falta de liquidez e da crise econômica. Daí tudo acaba bem e o povo americano fica rico e feliz, rs. Fiquei sabendo que a Disney está produzindo um "prelúdio do Mágico de Oz": "Oz, the great and powerful", que será dirigido pelo cara da trilogia do homem-aranha. Credo.

2 comentários:

  1. esse novo filme vai ser algo tipo "Dorothy: Begins"??? oO

    amei o texto, teu lado economista sempre vai me surpreender... ahahah

    deu vontade de escutar agora O Lado Negro da Lua (em Escorpião). "moneeey... it's a hit!"

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  2. "Dorothy: Begins" eu ri, kkkkk

    O lado negro da lua de Waters ficou muito evidente no vídeo "The Wall", que mostra os conflitos do artista com a figura feminina (mãe e esposa) e a distância entre ele e o seu público. O filme é sensacional e Waters gênio (ai, eu me empolgo, pago pau mesmo, kkk). O "dark side" fala bastante de trabalho e dinheiro, mas a lua dele não é tão evidenciada como em The Wall. E eu nunca tive a coragem de ouvir o disco conjugado ao filme do Mágico, rs.

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